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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Doença de Alzheimer


Doença de Alzheimer: O que há de Novo?

Dr. João Roberto D. Azevedo

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência na velhice. Acredita-se que existam 15 milhões de pessoas no mundo com a doença. Caracteriza-se pela perda da memória associada à deterioração das funções intelectuais, emocionais e cognitivas. Ocorre entre homens e mulheres, na mesma proporção, sendo que incide em 8% da população de idosos. Pode ter inicio ao redor dos 50 anos, mas é mais freqüente em idades mais avançadas. É uma doença de caráter progressivo.
É devida à disfunção das células nervosas, de causa ainda desconhecida, que provoca a diminuição de um hormônio neurotransmissor de grande importância na função cerebral (acetilcolina). Sabe-se que se trata de doença com caraterísticas hereditárias, sendo freqüente em pessoas da mesma família.
O inicio da doença é discreto, com esquecimentos, confusão com datas, dificuldade para saber dia, mês, ano. É muito característica a dificuldade em memorizar fatos recentes. Evolui progressivamente com o aparecimento de dificuldade para realizar pequenas tarefas domesticas, como realizar compras, cozinhar, etc. A pessoa passa a ter dificuldade na fala e não consegue manter raciocínio lógico. Há diminuição na concentração e na atenção. Ocorre o afastamento social. A desorientação no tempo e no espaço tende a piorar progressivamente. Há perda da capacidade de fazer cálculos, da leitura e da escrita. O humor se torna variável, com momentos de raiva, choro, depressão e agressividade. Evolui para dificuldade em se alimentar, e também em fazer a higiene pessoal.
O diagnóstico é de exclusão com outras demências (aterosclerótica, por ex), com manifestações de certas intoxicações (por drogas tipo tranqüilizantes, alcoolismo, etc), com certas infecções (encefalites), com manifestação de hipotireoidismo e com seqüela de traumatismo de crânio. Os mais modernos exames que estudam o sistema nervoso, como a tomografia cerebral ou a ressonância nuclear magnética podem se mostrar normais ou apresentar sinais de atrofia cerebral. O diagnóstico definitivo é dado pelo encontro de alterações características na biopsia cerebral:. Não deve ser confundida com as alterações de memória ("lapsos de memória") muito comuns em qualquer idade e que se acentuam na velhice, ou com estados de emoção ou depressivo e também com a intoxicação pelo uso excessivo de medicamentos tranqüilizantes. Estes "lapsos de memória" são processos benignos e nunca são acompanhados de outras alterações como ocorre na Doença de Alzheimer.
Não há cura para a doença, não havendo tratamento específico. A medicação deve melhorar ou pelo menos desacelerar as perdas cognitivas. O F.D.A. norte-americano, ao avaliar a eficiência de uma nova droga para o tratamento da doença de Alzheimer, utiliza metodologia que se baseia nas variações de memória, orientação, atenção, raciocínio, tirocínio, linguagem e da atividade motora. A medicação deve atuar objetivamente nestas funções e a avaliação é feita pelo menos durante 6 meses. As medicações conhecidas provocam o aumento da atividade central de acetilcolina. A tacrina, e o donepezil são substâncias que aumentam a acetilcolina cerebral e as únicas que foram aprovadas pelo F.D.A. A tacrina tem sido pouco utilizada devido aos seus efeitos colaterais enquanto o donepezil apresenta melhores resultados com menores efeitos colaterais. A revastigmina também aumenta o nível de acetilcolina e apresenta efeitos considerados positivos, já tendo sido liberada para uso comercial na Europa. O metrifonato, utilizado como vermífugo, também produz aumento da acetilcolina cerebral podendo ser útil no tratamento da doença, mas gera efeitos colaterais negativos. Entretanto este tratamento é paliativo, possuindo resultados bastante discretos.
A vitamina E (alfa-tocoferol) e a siligilina também tem sido usados no tratamento da doença de Alzheimer, ambos tendo ação antioxidante, produzindo um desaceleramento do processo de envelhecimento celular, retardando o desenvolvimento da doença. A Gingko biloba, derivada de conhecida erva, está sendo indicada como promover melhora das funções cognitivas.
O tratamento também se baseia em medicamentos sintomáticos, atividades físicas e mentais, sendo fundamental a constante estimulação da pessoa doente. Estes cuidados podem retardar a evolução da doença. Neste processo a participação da família é fundamental e deve começar pela compreensão da doença. A educação dos familiares e cuidadores é peça fundamental no processo terapêutico. A manutenção da dignidade e do auto respeito deve ser uma constante. O paciente deve ser estimulado a manter atividades, como exercícios físicos, afazeres domésticos, e se possível, participação de atividades sociais com outras pessoas. Os exercícios de memória devem ser estimulados (Oficina da Memória). A terapia ocupacional tem grande importância no tratamento. Nas situações de ansiedade ou agitação devem ser utilizados tranqüilizante suaves e ao se observar quadro depressivo este deve ser tratado da maneira convencional. Os pacientes devem possuir junto a si informações sobre a doença e seu endereço, pois com freqüência saem de casa para perambular e se perdem.
A preocupação com a prevenção da doença tem sido motivo de inúmeros trabalhos científicos. A identificação de fatores hereditários, a reposição hormonal, o uso de drogas anti-inflamatórias e até o desenvolvimento de vacina estão sendo consideradas.
A terapêutica molecular, que irá atuar sobre os genes alterados, parece ser o futuro do tratamento da doença de Alzheimer.
Dr. João Roberto D. Azevedo
Médico neurocirurgião
Autor do livro "Ficar Jovem Leva Tempo… Um Guia para Viver Melhor". Editora Saraiva. E-mail: jrobert@dialdata.com.br
www.ficarjovemlevatempo.com.br